Agricultores do projeto Redeser participam de intercâmbio com troca de saberes em três estados
Agricultores do projeto Redeser participam de intercâmbio com troca de saberes em três estados
Durante o encontro os participantes tiveram a oportunidade de partilhar saberes e informações entre comunidades de diferentes territórios.
Vinte e um agricultoras e agricultores de seis comunidades de Uauá e Monte Santo (BA), atendidas pelo projeto Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil: Práticas Agroflorestais Sustentáveis e Conservação da Biodiversidade-REDESER, participaram entre os dias 10 e 13 de dezembro de um Intercâmbio onde conheceram experiências exitosas em Sistemas Agroflorestal, Silvipastoril, Apicultura, Agrofloresta, BBZ e sistema integrado de produção. O intercâmbio foi realizado pela Fundação Araripe, entidade executora do projeto, que é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima-MMA e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura-FAO no Brasil, realizado em parceria com a Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE) e a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC). De acordo com o coordenador técnico do projeto Redeser, Magno Feitosa, o objetivo do intercâmbio foi proporcionar uma troca de saberes com agricultoras e agricultores experimentadores que estão desenvolvendo e implementando sistemas produtivos resilientes e regenerativos de baixo carbono na Caatinga, além de tecnologias sociais que assegurem o bem-estar das famílias rurais do semiárido.
Bahia: Conhecimento sobre sistema integrado de produção agrada participantes
O evento teve início com uma visita ao Sisteminha Embrapa que funciona na Universidade Federal Vale do São Francisco (UNIVASF), em Juazeiro (BA). Durante a visita, o grupo conheceu as instalações e a proposta de um sistema integrado de produção que alia a produção animal e vegetal. Márcio Fabrício, zootecnista voluntário, explicou que a ideia do projeto é mostrar como utilizar uma tecnologia social que integra a criação de peixes, aves, hortaliças, frutas e legumes, permitindo que as pessoas produzam o próprio alimento, possibilitando segurança e soberania alimentar, a baixo custo.O aprendizado animou os participantes, como seu João Bosco, agricultor e produtor rural da comunidade Testa branca em Monte Santo. “A gente pode fazer esse sistema no terreno de nossa casa de forma sustentável para nossa família. Foi uma oportunidade muito boa de a gente aprender mais. Foi uma oportunidade única”, relatou seu João.
Na manhã do dia 11, o grupo visitou a propriedade rural Água Branca, na zona rural de Santa Cruz (PE), do senhor Francisco Gomes Soares, onde conheceram o Sistema Agroflorestal com suporte forrageiro de plantas da Caatinga como a maniçoba, a leucena e a palma forrageira. Em seguida, os participantes conheceram uma Barragem Baze Zero (BBZ), tecnologia social de conservação de água e solo, na propriedade de Aldemauro Sousa, no Sítio Malhadinha.
“A técnica do arco de pedras, a BBZ, faz o barramento da água das chuvas, ajudando a reter o solo, evitar a erosão e ajuda a acumular a terra e a matéria orgânica dela que ia ser levada pela água. Consequentemente, o local que estava degradado vai voltar ao nível natural”, explicou Antônia Gomes, técnica da Fundação Araripe.
A tecnologia já é utilizada e aprovada por alguns dos participantes. “Foi muito importante conhecer mais sobre essa tecnologia (BBZ). Eu tive essa experiência dentro da minha comunidade e a gente percebe que dá certo, que tem resultados muito grandes e valiosos em pouco tempo”, avaliou a estudante da EFASE, Maria Clara Mendes do Nascimento, representante do Assentamento Desterro do Alto Alegre, Monte Santo. No final da tarde, o grupo participou de um momento cultural no Museu de Luiz Gonzaga, no município de Exu (PE), onde todos conheceram a história e a vida de um dos maiores compositores nordestinos.
Pernambuco: Experiências com Meliponicultura, Sistema Agroflorestal e a prática de Manejo Silvipastoril apresentadas comprovam potencial dessas técnicas
A comitiva conheceu, na comunidade Viração, na zona rural de Exu (PE), no dia 12, as instalações e a experiência da Associação dos Apicultores do Município de Exu (EXUAPIS). Seu Francisco Lúcio da Silva fez um relato sobre a história da Associação, falou sobre o mel produzido de abelhas italianas, da florada do cipó uva, que resulta num mel mais claro e de sabor mais suave. A técnica da Fundação Araripe, Daniele Siebra trouxe informações técnicas sobre a apicultura e esclareceu dúvidas dos participantes.
Os participantes visitaram, no dia 12, a Associação de Agricultores Familiares e Extrativistas da Chapada do Araripe (Agrodóia), em uma visita guiada pelo casal Vilmar Lermer e Silvanete Lermer acompanhados pelos filhos, percorrendo a propriedade para conhecer o Sistema Agroflorestal da propriedade. Durante a visita foi realizada uma apresentação das espécies plantadas, degustação de frutos nativos, troca de sementes e de saberes, além de explicação sobre tipo de solo, manejo da meliponicultura, finalizando com uma exposição dos produtos produzidos pela Associação como o mel, óleos essenciais, folhas para chás, entre outros.
Seu José Brito de Santana, agricultor de Lagoa do Saco, de Monte Santo, participou da visita e relatou a importância da preservação da natureza a partir da Agrofloresta. “Se todos nós pudéssemos fazer um pouquinho só de agrofloresta, não ia acabar o solo. Eu estou com um monte de sementes para plantar na minha terra”, mostrou.
Em Santa Cruz-PE, os agricultores e agricultoras conheceram a propriedade Serra Nova Vida, do seu Jordão de Souza Silva e tiveram contato com a experiência do Manejo Silvipastoril. Ele apresentou a tecnologia, destacando que a implantou há pouco mais de dois anos, com resultados satisfatórios na cobertura vegetal do solo e na oferta de alimentos para a criação de cabras. Ele mostrou ainda algumas espécies de plantas nativas da Caatinga que servem de alimento para os animais e como usou a técnica de raleamento, ressaltando ainda, a importância do plantio de espécies nativas e de não realizar queimadas. “Trazer a Caatinga de volta é a forma que se combate o desmatamento, plantando espécies que combinam com o semiárido, garantindo o alimento da família também”, fez questão de destacar seu Jordão.
Para seu Alcides Peixinho, da comunidade de Uauá, as experiências de BBZ e Manejo Silvipastoril possibilitaram a ele verificar na prática a viabilidade do projeto Redeser. “A gente vê que o projeto tem sentido e esperamos que ele possa ser ampliado, que possa vir mais recurso para que mais comunidades e famílias tenham acesso, porque o resultado é positivo”, destacou.
Ceará: apresentação institucional. visita a entreposto de mel e programação cultural finalizam agenda de conhecimento
À noite, a programação a diretoria da Fundação Araripe fez uma recepção para os participantes no auditório do Geopark Araripe, em Crato (CE), onde realizou uma apresentação institucional, contextualizando o projeto Redeser no âmbito da Fundação. Fez uma explanação sobre os projetos em andamento e citou ainda os parceiros institucionais.
Finalizando o intercâmbio, no dia 13 o momento de troca de saberes foi no entreposto de mel no Crato (CE), na Matrunita da Amazônia, empresa que comercializa mel orgânico de todo o Nordeste. A equipe recebeu informações de todo o processo de homogeneização e exportação do mel, desde a identificação, capacitação dos apicultores, acompanhamento de colheita, processamento, controle e exportação. finalizando o momento, o grupo seguiu para o Horto, em Juazeiro do Norte (CE), para conhecer o Museu Vivo e a famosa estátua do Padre Cícero.
A programação foi pensada na troca de experiência entre os participantes e segundo se José Brito, agricultor de Lagoa do Saco, em Monte Santo, deu certo. “Essa foi uma experiência inesquecível, a gente aprende muito e também ensina muito. Foram quatro dias especiais”, afirmou seu José. Os exemplos demonstrados no intercâmbio se tornaram referência para os agricultores que mencionaram a importância dos diálogos e viabilidade das tecnologias sociais aplicadas em um contexto mais avançado.