Iniciativa é desdobramento da primeira especialização TecABC do país, realizada em parceria com o PRS Caatinga

O semiárido está ganhando um laboratório vivo para experimentação das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC), voltado para a formação de profissionais de assistência técnica, extensionistas rurais e agricultores familiares. No dia 3 de setembro, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) apresentará, para toda a comunidade, o Sistema Agroflorestal Francisco Roberto Caporal – uma Agrofloresta para estimular o ensino e a aprendizagem das TecABC, com tamanho de 1 hectare. Nela, os alunos, pesquisadores, agricultores familiares e comunidade do entorno irão vivenciar práticas sustentáveis.

A Agrofloresta está localizada no Espaço Plural da Univasf, que abriga 20 iniciativas da universidade, entre elas, o curso de “Especialização em Tecnologias de Baixa Emissão de Carbono Fortalecendo a Convivência com o Semiárido”. De acordo com Bruno Cezar Silva, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional e coordenador do projeto, a perspectiva da Agrofloresta é transformar a área em um espaço de pertencimento.

“A vinda das TecABC, na parceria com o PRS Caatinga, contribuiu muito para a criação desse espaço. A experiência com o Programa de capacitação em TecABC foi muito positiva. Estamos agora aplicando essa expertise na Agrofloresta. Podemos dizer que é um desdobramento da nossa capacitação e especialização. E estamos abertos a instituições que queiram se juntar ao nosso projeto”, comentou Silva.

Organizações beneficiadas pelo Programa de Capacitação investem na iniciativa

A criação da Agrofloresta é uma iniciativa da Univasf que conta com o apoio das 20 organizações parceiras do PRS Caatinga na implantação de Arranjos Produtivos Locais (APLs) sustentáveis, que proveram recursos: financeiro, insumos e horas de trabalho. A Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias – Agrodóia, por exemplo, que é especialista em sistemas agroflorestais, além de ter colaborado com a viabilidade do espaço, forneceu consultoria e mudas de vegetação nativa da Caatinga para plantio.

Vilmar Lernem, da Agrodóia

Vilmar Lermen, agricultor agroflorestal e diretor da Agrodóia, destaca que a Agrofloresta é fundamental como espaço produtivo que apoia atividades de ensino, pesquisa e extensão realizados pela universidade, pela comunidade científica, pela comunidade da agricultura familiar em geral e, especificamente, por famílias de agricultores que contam com a assessoria da universidade nos estados de Pernambuco, Bahia e Piauí. Por meio de visitas, intercâmbios, estudos e vivências.

“A ideia é desenvolver naquele espaço conceitos e questões próprias voltadas para a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), recuperação de áreas degradadas (RAD) e os sistemas agroflorestais na Caatinga. A Agrodóia fez um aporte técnico, financeiro, científico, pedagógico e metodológico. Além do fornecimento de mudas e sementes, também realizamos visitas in loco e uma assessoria virtual, participando da escolha do nome e das metodologias dos sistemas florestais que vêm sendo implantados no espaço”, disse Vilmar.

Há ainda uma mobilização entre a Univasf, PRS Caatinga, a Embrapa, a Fundação Araripe (PE), Agrodóia (PE), Fundo de Permanência na Terra – Funpet (AL), Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia – Agendha (SE) e Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas – Caatinga (PE) para formar uma rede com o objetivo de fortalecer o capital social em torno das tecnologias de baixo carbono. Essa articulação pretende promover a ILPF por meio de sistemas resilientes de baixo carbono na Caatinga e investir em estudos e debates para conceituar essa tecnologia no bioma Caatinga.

Espaço consolida produção de conhecimento sobre agricultura sustentável no semiárido

Em 2020, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do PRS Caatinga, estabeleceu uma parceria com a Univasf para a oferta do Programa de Capacitação em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono. O objetivo foi promover conhecimento sobre o conjunto de conceitos e práticas sobre o tema, levando em conta as características e peculiaridades da região semiárida.

Através do curso de especialização “Tecnologias de Baixa Emissão de Carbono: Fortalecendo a Convivência com o Semiárido”, o PRS Caatinga investiu prioritariamente na qualificação de assistentes técnicos e extensionistas que atuam com as cooperativas e associações de produtores rurais para fomentar a adoção de práticas e tecnologias orientadas para a agricultura de baixo carbono. A qualificação de assistentes técnicos e extensionistas rurais é considerada um investimento estratégico na medida que o percentual de estabelecimentos rurais com acesso à assistência técnica nos 37 municípios prioritários é baixo, variando entre 0,4% em Curral Novo (Piauí) e 23,3% em Nordestina (Bahia)

Gestores, servidores públicos, agentes ambientais, agentes de crédito, experimentadores, práticos e comunidades tradicionais como povos indígenas, quilombolas e vaqueiras também participaram do Programa. As quatro turmas reuniram mais de 800 inscritos. Em abril, houve a formatura de 375 extensionistas rurais na modalidades de capacitação e aperfeiçoamento. Em novembro, haverá a formatura de cerca de 300 especialistas, que já concluíram o curso e receberão seus diplomas reconhecidos pelo Ministério da Educação. Estes números superam a meta inicial do projeto de formar 125 profissionais de ATER.

Tecnologias de baixo carbono foram integradas na grade curricular

O curso de “Especialização Tecnologias de Baixa Emissão de Carbono: Fortalecendo a Convivência com o Semiárido” gerou um legado estruturante na Caatinga com a renovação de quadros técnicos e a qualificação de um público diverso ligado à produção rural. Além disso, a universidade incorporou, de maneira permanente, os conteúdos e as dinâmicas do curso no Mestrado Profissional em Extensão Rural, a partir de 2022. Segundo a Pró-Reitora de Extensão da Univasf e coordenadora pedagógica do curso, a professora Lúcia Marisy, a preocupação foi estabelecer uma metodologia que contemplasse teoria e prática. Mercado, produção, organização, reuso de água, tecnologias de baixo carbono, Arranjos Produtivos Locais (APLs), financiamentos, entre outros temas, estão no roteiro das aulas.

– A partir deste ano, todos os alunos estão aptos para o ingresso no mercado de Agricultura de Baixo Carbono. Um legado mais do que fundamental para a sociedade, que precisa manter os níveis controlados de carbono. A inclusão das Tecnologias de Baixo Carbono no currículo do curso de Mestrado Profissional e Extensão Rural já é uma realidade. Reconhecemos a importância da formação dos nossos extensionistas nessa habilidade, com impacto significativo junto aos agricultores familiares e sobretudo em prol da conservação do planeta –, enfatizou a profa. Lúcia Marisy.

Fonte: PRS Caatinga

Por: Patrisia Ciancio e Anne Clinnio